sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O Velho Poeta

Insucesso... Displicência... Descrédito... O velho lápis na mesa, a nova saudade da ocasião... De inerte a situação toma um rumo ameaçador... Manuseia a folha... Mão trêmula e coração trepidante... A última frase, quase imantada, ainda recheia seus sonhos... Agora, sem ação, um fulgor lhe corre as veias... Como vitima da abstinência, se entrega por vagos momentos... Por hora vacila, quase refuga, tem medo de que as palavras o dominem para sempre... A memória o afaga e o destrói, simultaneamente... Recorda com paixão e ódio do último texto em chamas... No inicio era somente um recurso... Para não dilacerar a vida, o mundo, os sonhos... Era o segredo do sucesso, do insucesso, do acaso e do casual... Foi o último gole de sua coragem... Depois fez a pausa letal... Mudou de profissão... Praguejou com vigor contra a arte das letras... Nobre senhor... Resignou com vigor o fato de morrer como os poetas de outrora... Numa loucura visceral, numa entrega infinita... Realista demais... Escorraçou Machado, Amado e Barreto de seu “Olimpo” pessoal... Limpou Neruda, Saramago e Sartre de sua estante... Mas agora é diferente... Ou igual? O que fazer? Uma chama poderosa queima-lhe o peito... Não há como não sucumbir a sina sagrada imutável (praticamente um tripleonasmo)... Mas qual será o impacto da primeira palavra? Qual será o calor da frase recém-nascida? Decidiu encurtar o sofrimento... As duas da madrugada... Resolveu cravar, num rabisco humilde, num pensamento rico... A frase mais genial que alguém poderia criar... Inexplicável, intraduzível, intransponível... Letal... Para o bem... Para o mal...
Eis que surge: Eu te amo!
E não resta nada a dizer...

Um comentário:

Evandro Barbosa disse...

Aposto que esta tu escreveste direto do Botequim...rs. Após algumas e "algoutras"...rs. Moleque ninja da palavra. Divaga e recobra a visão como poucos. Um gênio da eloquência. Leia Rogenski. Eu recomendo.