sexta-feira, 1 de maio de 2009

Senna do Brasil!



Na infância, na casa de minha avó, me recordo de brincar de Fórmula 1 usando a tampa da panela como volante. Ainda lembro... Minhas corridas virtuais tinham narração própria. “Ayrrrrrrrrrrrton Senna do Brasillllllllllllllllll!”. No imaginário, o tema da vitória iluminava a minha fantasia, que ia muito além das manhãs de domingo.

Apesar de tudo isso, com apenas 10 anos de idade, eu não fazia a menor idéia de quem era o piloto Ayrton Senna. Muito menos a figura humana Ayrton Senna. Hoje, depois de ter lido, pesquisado e assistido uma infinidade de corridas e entrevistas, faço um pouquinho mais de idéia de quem foi este gênio.

Por isso, meus caros fregueses, depois deste 1º maio, dia em que nosso herói foi traído pelas curvas sinuosas de Ímola há 15 anos, ofereço a vocês este trecho de uma crônica de Armando Nogueira intitulada “Eles são reféns da glória”. Apreciem sem moderação.

“... Ele e a máquina viviam as mil maravilhas. Eram duas almas irmãs. Juntos, sempre, compartilhavam o prazer de desafiar, ao mesmo tempo, a vida e a morte. Nós, o coração pulsando, seguíamos com angústia e orgulho aquela ousada porfia. Vibrávamos como se fosse um faz-de-conta. Como se não fosse uma louca aventura.

É certo que ele nunca perdia a lucidez. Tinha o sangue-frio dos eleitos de Deus. No instante do perigo, sobrevinha uma centelha para salvar-lhe a vida. Sempre com a ajuda fraternal da máquina, seu passatempo preferido.

E assim viveram anos. Até que um dia, dizem, a máquina o traiu, brutalmente. Não creio. Até onde sei, a traição é um tenebroso privilegio somente dos homens; não das coisas. O predestinado parece ter sido traído pela própria vida. Morreu de um golpe que ela já vinha tramando para ele, há tempos.

A vida deu-lhe fama, deu-lhe fortuna. Glorificou-o. E quanto mais lhe davam em justas reverências, mais o afastávamos da humana condição. A tal ponto que nosso herói, Ayrton Senna, já não tinha mais, sequer, o direito de ter medo. Como qualquer criatura de Deus.


Senna tinha o olhar solitário do menino filho único. Mas era destemido. E ai dele se não fosse. Seria deserdado da glória. Ele adivinhou a tragédia. Na véspera, teve maus pressentimentos. Uma voz secreta lhe avisara, na solidão do hotel, que alguma coisa de ruim podia lhe acontecer na pista sinistra de Ímola. E por que não desistiu?

Senna sabia que ninguém o perdoaria. Afinal, o verdadeiro herói deve sentir-se exatamente como nós o sentimos: imortal. Eles são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance. E lá se vai o nosso super-homem vertiginoso para o desafio de ultrapassar o tempo, numa competição que dá ao homem, por prêmio maior, a própria morte...”

3 comentários:

Diego Viñas disse...

É incrível!!!

Era sempre a mesma história... "e aí pai, o Senna ganhou de novo?"... pra gente que se acostumou assim, ainda espera o tempo que os dias de F1 serão melhores pro Brasil! Postagem nostalgia... ótima para um papo de botequim!

Roberto, Sempre Flamengo! disse...

Eu acompanhei muitas corridas do Senna e não vi nada igual até hoje e na época dele, só tinha fera como Prost, Mansel, Schumacher, Berger, Piquet. Enquanto a Williams tinha cambio borboleta, sua Mclaren com cambio normal tipo alavanca, conseguia superar os rivais, na chuva também nunca vi igual. imagino quantos titulos ele teria ganhado se estivesse correndo por mais 5 anos. Saudades eternas

Pensamento aqui é Documento disse...

É.

O Senna foi mais do que um piloto destemido, ele foi um agente de união. Ele esteve por muitas manhãs em minha casa.

Ele motivava a família inteira sentar no sofá. Corria e ultrapassava para que eu, ansiosamente, apertasse os dedos de meu pai. Ganhava para que a comemoração fosse feita em meio aos abraços.

Senna foi mais que um herói, ele foi um agente de união...

PS: Adorei o blog!

Um beijo,

Naty